SOB OS OLHOS DA NOITE
- Renata Pignaton

- 4 de nov. de 2023
- 1 min de leitura
Atualizado: 20 de abr. de 2024
Sons monotônicos,
grilos e pêndulos.
A fumaça do bule
aquece a medula torta.
Café,
músculo pesado,
nostalgia.
Trabalhos infinitos, infindos, finados.
A voz do vento nas árvores negras
Uma música romântica no rádio
Choros de crianças
Gatos acasalam.
Na varanda, a companhia do solitário:
em prédios, janelas acesas
Olhos amarelos perdidos no espaço.
Ninguém telefona, solidão do horário.
A noite dos bares vermelhos de sexo
O álcool,
a coragem estalada
Mulheres felinas, homens ferozes
De dia, trabalhadores pacatos.
Motel, céu de orgasmo
Algo levam da vida os sexuados.
Na cama cabeças reclamam por sono
Maridos roncam
esposas choram o casamento acabado
A mãe finge o descanso
com os filhos em voos desorientados.
Televisão chiando na sala
filme velho valorizado
As joias do lixo noturno.
Chinelo arrastando no chão
Produção,
num escritório, num quarto
alguém trabalhando
farto ou em parto
dinheiro
tempo
inspiração.
Os bichos noturnos estão soltos
revoltos em aflição
A jaula do dia,
dor recente,
já vai começar.
Não, ninguém quer chorar
Quando o sol amarelar a cortina
os que pela noite morreram
ao dia viverão,
os que pela noite viveram
ao dia morrerão.
CALEIDOSCÓPIO 1998
CAPÍTULO: PEQUENAS FACES






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