UTOPIA
- Renata Pignaton

- 2 de nov. de 2023
- 1 min de leitura
Atualizado: 20 de abr. de 2024
Não ouso ainda escrever sobre o que me aleijou.
Dos restos digo que são:
uma música
um perfume,
que guardo em uma roupa usada,
fotografias,
uma voz gravada em uma fita,
presentes
e memórias turvas.
Estou vacinada.
Insensível à dor da saudade.
Às vezes até me preocupo com os esquecimentos.
Bem queria que fosse coisa da idade.
Onde você foi parar?
Ainda sonho coisas que nunca aconteceram
nem nos meus momentos mais conscientes.
Estranho vir a saber de desejos hoje ausentes.
Se já não podia tê-los realizados quando o tinha
e agora então!
Ao menos não sofro por isso,
porque não mais me vem a sua face risonha
sem que eu me esforce por tê-la.
Meus sonhos denunciaram atração sexual,
que pensava não existir em nossa relação tão
“pura”.
Queria ter sido sua filha,
e acabei virando amante sem sexo.
Falo sem pontadas,
medo de abrir um velho baú cheio de segredos.
Não me recordo,
apenas me lembro de um sonho que tive acordada
e como de sonho não tenho saudades,
posso continuar falando sem proteção:
espero algum dia estar à altura de escrever sobre a alma humana
em seu estado mais puro,
sem sujá-la com palavras profanas.
CALEIDOSCÓPIO 1998 CAPÍTULO: PEQUENAS FACES






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